Extensão de Cílios

Quando a Beleza Coloca a Saúde dos Olhos em Risco

Beleza ou saúde? A escolha que nem sempre é consciente

Por Dra. Valerie Pereira Camargo | Médicos de Olhos

A busca por cílios longos e volumosos tornou-se tendência consolidada nos últimos anos. Procedimentos como a extensão de cílios prometem realçar o olhar e facilitar a rotina de maquiagem. No entanto, por trás dessa prática estética amplamente difundida, há uma série de riscos silenciosos que muitas vezes são ignorados – inclusive por quem realiza ou indica o procedimento.

Neste artigo, vamos abordar os efeitos da extensão de cílios na saúde ocular, o que a ciência oftalmológica já sabe sobre o tema, e os cuidados indispensáveis para quem deseja manter o olhar bonito sem comprometer a visão.

 

Historicamente, os padrões de beleza vêm impondo transformações radicais ao corpo humano. Da tradição dos pés de Lótus na China antiga às cinturas moldadas por espartilhos no século XIX, a estética frequentemente se sobrepôs ao bem-estar físico.

Hoje, vivemos a era dos cílios exuberantes colados sobre pálpebras finas, muitas vezes sem qualquer avaliação oftalmológica prévia. O problema é que esse hábito estético, aparentemente inofensivo, pode gerar alterações significativas e permanentes na estrutura ocular.

O que é a extensão de cílios?

A extensão de cílios é um procedimento estético no qual fios sintéticos são colados fio a fio sobre os cílios naturais, utilizando adesivos químicos específicos. Existem diferentes técnicas e materiais, e os resultados variam em volume, curvatura e espessura.

Por mais profissional que seja o processo, a extensão de cílios adiciona peso às pálpebras e cria uma barreira sobre a superfície ocular. Com o tempo, isso pode desencadear diversas complicações oftalmológicas, especialmente em pessoas predispostas ou com histórico de doenças oculares.

Riscos oftalmológicos da extensão de cílios

Apesar de amplamente aceito como procedimento estético, a extensão de cílios não é inofensiva. Os riscos incluem:

  1. Ptose palpebral e dermatocalaze

O peso constante dos fios artificiais pode levar ao afrouxamento da musculatura palpebral, causando queda da pálpebra (ptose) e excesso de pele (dermatocalaze). Essas alterações não são apenas estéticas — podem reduzir o campo visual e interferir na visão periférica.

  1. Alterações na córnea

O atrito frequente dos cílios sobre a córnea, associado ao peso extra e aos componentes químicos da cola, pode provocar irregularidades na superfície corneana, afetando a qualidade da visão e alterando o grau dos óculos.

  1. Olho seco

A obstrução das glândulas de Meibômio — responsáveis pela produção da camada lipídica da lágrima — é uma consequência comum. O acúmulo de cola, resíduos cosméticos e oleosidade prejudica a lubrificação ocular, levando ao olho seco evaporativo.

  1. Blefarite e inflamação palpebral

A extensão favorece o acúmulo de detritos entre os cílios, criando um ambiente ideal para proliferação bacteriana, gerando blefarite, conjuntivite e até mesmo infecções mais severas.

  1. Alergias e toxicidade

Os componentes da cola utilizada podem desencadear reações alérgicas, irritação ocular intensa e vermelhidão persistente.

A negligência do cuidado: quem avalia suas pálpebras?

Muitas pessoas que realizam a extensão de cílios nunca passaram por uma consulta oftalmológica. A falta de avaliação especializada significa que doenças palpebrais, alterações da superfície ocular ou pré-disposições anatômicas passam despercebidas.

Somente o oftalmologista está capacitado para:

  • Avaliar a saúde das pálpebras e glândulas lacrimais;
  • Identificar sinais precoces de inflamação ou infecção;
  • Realizar exames com ampliação para observar a anatomia palpebral;
  • Acompanhar alterações na córnea ou grau refracional.

Estudo pioneiro em andamento no Médicos de Olhos

Com o objetivo de compreender de forma científica o impacto da extensão de cílios na saúde ocular, o Médicos de Olhos desenvolveu um novo protocolo de pesquisa clínica, liderado pela Dra. Rafaela Cesário Maluf.

O estudo inclui:

  • Questionários específicos sobre doenças de superfície ocular;
  • Exames de imagem e topografia corneana;
  • Acompanhamento oftalmológico completo.

A meta é registrar alterações estruturais e funcionais provocadas pelo uso prolongado das extensões, contribuindo com dados para futuras recomendações médicas.

Como proteger seus olhos se você usa extensão de cílios?

Se você ou suas pacientes optam pela extensão, é essencial seguir algumas recomendações:

Realize avaliação oftalmológica antes de iniciar o procedimento;
Prefira profissionais certificados e que usem materiais testados dermatologicamente;
Higienize as pálpebras regularmente com produtos adequados;
Evite tocar ou puxar os cílios;
Faça pausas periódicas no uso da extensão para recuperação natural dos cílios e da pele palpebral;
Ao primeiro sinal de irritação, vermelhidão, visão turva ou coceira, suspenda o uso e procure um oftalmologista.

Beleza e saúde devem andar juntas

Cuidar da aparência é um direito. Mas ignorar os efeitos colaterais de práticas estéticas pode trazer consequências sérias. O olhar bonito deve ser acompanhado de olhos saudáveis — e isso só é possível com informação, cautela e acompanhamento médico.

Se você deseja manter a beleza com segurança, o primeiro passo é agendar uma consulta com um especialista. No Médicos de Olhos, temos uma equipe preparada para avaliar a saúde das suas pálpebras e orientar sobre os melhores cuidados para manter sua visão protegida.

FAQ – Extensão de cílios e saúde ocular

Extensão de cílios causa olho seco?

Sim. A cola e o peso dos fios podem obstruir glândulas lacrimais, levando ao ressecamento ocular.

Em alguns casos, irregularidades na córnea causadas pelo atrito ou inflamação podem alterar a refração.

Depende do grau de dano. Algumas alterações são reversíveis com tratamento, outras podem deixar sequelas permanentes.

Recomenda-se avaliação a cada 6 meses, ou imediatamente se houver sintomas como dor, irritação ou embaçamento visual.